quarta-feira, 5 de março de 2008

a psicogênese da escrita

Psicogênese da Língua Escrita

Pesquisa realizada por Emília Ferreiro e Ana Teberosky em 1979, com crianças de diferentes idades e nacionalidades.
Pertenciam à escola de Jean Piaget e, num campo que o próprio Piaget não havia estudado, elas introduziram o essencial da sua teoria e de seu método científico.
As reflexões e teses expostas nessa obra baseiam-se num trabalho experimental que as autoras realizaram em Buenos Aires, durante os anos de 1974, 1975 e 1976, quando intuíam que a aprendizagem da leitura e da escrita não poderia se reduzir a um conjunto de técnicas percepto-motoras nem à vontade ou à motivação, mas que deveria se tratar de uma aquisição conceitual.
No decorrer da pesquisa, as autoras perceberam que todas as crianças, independente de sua nacionalidade, passam em seu processo de construção da escrita pelas mesmas etapas que o homem passou quando “descobriu” a escrita.
Tais estudos demonstram que as crianças constroem hipóteses a respeito da escrita e da leitura, da mesma forma que o fizeram para a aprendizagem da língua oral. Em todo o momento em que necessitam escrever algo, as crianças são colocadas à prova, pois necessitam pensar, se questionar, e os sinais devem representar o que vão escrever, dentre outros aspectos.
É importante a mudança nessa concepção sobre a escrita para que se entenda que a alfabetização acontece em um trabalho conceitual. As crianças, desde muito cedo, procuram compreender todas as informações que recebem, quer através de textos, de outras pessoas, quer ao participar de atos sociais que envolvem leitura e escrita, pois essa informação antecede o início da instrução escolar.

HIPÓTESE PRÉ-SILÁBICA
Escrita Indiferenciada
• Não ocorre diferenciação entre números, letras e desenhos;
• Não há critério de qualidade ou quantidade quanto aos sinais gráficos;
• Uma mesma palavra é escrita de maneiras diferentes;
• Não tem a intenção de informar o leitor quanto ao que está escrito. É uma marca exclusivamente pessoal e, por isso, acaba usando desenhos quando necessário.
Escrita Diferenciada
• Possibilidade do uso de sinais gráficos convencionais;
• Quantidade mínima de caracteres (geralmente três);
• Variação na qualidade, ou seja, letras ou sílabas não podem se repetir na mesma palavra;
• Usa somente letras significativas e que fazem parte do seu repertório (principalmente as do seu nome);
• Tamanho ou quantidade de sinais gráficos correspondem ao nome representado;
• Instabilidade na representação da mesma palavra em contextos diferentes.

Hipótese Silábica

Descoberta de que a escrita representa a fala, fazendo a correspondência de cada sílaba oral a um sinal gráfico. Na oração, a escrita de uma palavra inteira pode ser representada por apenas uma letra ou ainda, uma letra para cada sílaba.

Sem valor sonoro convencional:
• Utilização de um sinal gráfico para representar o som de uma sílaba;
• Ao utilizar letras convencionais, qualquer letra pode servir para qualquer som;
Com valor sonoro convencional:
• A escrita de uma letra corresponde ao som de cada sílaba falada, podendo ser vogal ou consoante;
• Quando se escolhem apenas vogais para representar sílabas orais, pode ocorrer que palavras diferentes tenham escritas iguais, o que contraria a hipótese da etapa anterior;
• Na procura de saída para esses conflitos, pode ocorrer o emprego de mais letras no meio ou no final da palavra;

A hipótese silábica é uma passagem de grande importância para o desenvolvimento de todo o processo de construção da criança, pois é aquela que mais gera conflitos e perturba suas certezas.

Hipótese Silábico-Alfabética

• Período de transição entre as hipóteses silábica e alfabética, em que a criança não abandona por completo suas concepções anteriores, mas também não se apropriou totalmente da análise da escrita em termos fonéticos;
• Nesta fase, os leigos acreditam que o aluno “come” letras por dificuldade de percepção visual ou auditiva, porém é nesse momento que a criança percebe que o som de uma sílaba pode ser escrito com mais de uma letra. Ao contrário, ela acrescenta letras e não as omite.

Há progresso na compreensão do sistema da escrita e não patologia. (AZENHA, 1996)

Hipótese Alfabética

• Construiu-se a concepção alfabética do sistema de escrita;
• Compreende que cada caráter da escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba
• A criança faz uma análise sonora da palavra que vai escrever;
• A escrita é fonética, não necessariamente ortográfica;
• Inicia-se um processo de atenção à separação das palavras nas frases, o que não significa que escrevam separando-as corretamente nas mesmas;
• A criança sente segurança em suas produções porque sabe que o leitor entende seu texto;
• Começam a aparecer as dificuldades para o domínio das regras ortográficas, entretanto este é um próximo momento, pois a criança já construiu o sistema formal da língua escrita.

Sondagem

• As palavras devem fazer parte do vocabulário cotidiano dos alunos, mesmo que eles ainda não tenham tido a oportunidade de refletir sobre a representação escrita dessas palavras.
• A lista deve contemplar palavras que variam na quantidade de letras, abrangendo palavras monossílabas, dissílabas etc.
• O ditado deve ser iniciado pela palavra polissílaba, depois a trissílaba, a dissílaba e, por último, a monossílaba. Esse cuidado deve ser tomado porque, no caso de as crianças escreverem segundo a hipótese do número mínimo de letras, poderão recusar-se a escrever caso tenham de começar pelo monossílabo.
• Evite palavras que repitam as vogais, pois isso também pode fazer com que as crianças entrem em conflito – por causa da hipótese da variedade – e também recusem-se a escrever.
• Após o ditado da lista, dite uma frase que envolva pelo menos uma das palavras da lista, para que se possa observar se os alunos voltam a escrever essa palavra de forma semelhante, ou seja, se a escrita dessa palavra permanece estável mesmo no contexto de uma frase.

MORTADELA
PRESUNTO
QUEIJO
PÃO
O MENINO COMEU QUEIJO

• Faça a sondagem em um papel sem pauta. Isso é proposital, pois assim será possível observar o alinhamento e a direção da escrita dos alunos.
• Se possível, faça a sondagem com poucos alunos por vez, deixando o restante da turma envolvido com outras atividades que não solicitem tanto sua presença.
• Dite normalmente as palavras e a frase, sem silabar.
• Observe as reações dos alunos enquanto escrevem. Anote aquilo que eles falarem em voz alta, sobretudo o que eles pronunciarem de forma espontânea (não obrigue ninguém a falar nada).
• Quando eles terminarem, peça para que eles leiam aquilo que escreveram. Anote em uma folha à parte como eles fazem essa leitura, se apontam com o dedinho cada uma das letras ou não, se associam aquilo que falam à escrita etc.
• Faça um registro da relação entre a leitura e a escrita. Por exemplo, o aluno escreveu k B O e associou cada uma das sílabas dessa palavra a uma das letras que escreveu. Registre:
k B O (PRE) (SUN) (TO)

• Pode acontecer que, para PRESUNTO, outro aluno registre BNTAGYTIOAMU (ou seja, utilize muitas e variadas letras, sem que seu critério de escolha dessas letras tenha alguma relação com a palavra falada). Nesse caso, se ele ler sem se deter em cada uma das letras, anote o sentido que ele usou nessa leitura. Por exemplo:
BNTAGYTIOAMU

• ATENÇÃO! Caso algum aluno se recuse a escrever, ofereça-lhe letras móveis.